Equilíbrio delicado nas Malvinas

Os excrementos das aves marinhas ajudaram a moldar o ecossistema delicadamente equilibrado das Ilhas Malvinas, que corre o risco de um colapso abrupto com o aquecimento do clima, mostra um novo estudo.

Uma reconstrução paleoecológica de longo prazo, descrita em um artigo na revista Science Advances, revela que as aves marinhas migraram pela primeira vez para as Malvinas há 5000 anos, quando a região estava esfriando.

Hoje, as ilhas subantárticas são um refúgio para algumas das colônias de reprodução mais importantes do mundo, incluindo Cagarras, Petréis de Queixo Branco e cinco espécies de pinguins.

Nesses postos avançados sem árvores e varridos pelo vento, os pássaros se reproduzem nas pastagens naturais de touceiras ao longo da costa, que oferecem proteção, alimento e locais e materiais para nidificar. Nos últimos dois séculos, no entanto, esse habitat de reprodução foi severamente esgotado pelo pastoreio e erosão das ovelhas.

As populações de aves marinhas também estão ameaçadas pelo aumento das temperaturas e pelo aumento da acidificação dos oceanos, mas a extensão de sua sensibilidade é difícil de prever, já que o monitoramento de longo prazo só começou nas últimas décadas.

Foto: (reprodução/ internet)
 

Agora, a pesquisa liderada pela University of Maine, EUA, se voltou para o registro fóssil para preencher as lacunas, juntando as interações entre as aves marinhas e as ilhas ao longo de milhares de anos.

Durante as expedições em 2014 e 2016, a equipe coletou uma coluna de turfa de 476 centrímetros de Surf Bay em East Falkland. Este fino cilindro de material orgânico registrou 14.000 anos de história ambiental em suas camadas, permitindo aos pesquisadores rastrear o desenvolvimento da ligação entre o ecossistema terrestre e o marinho.

Durante os primeiros 9.000 anos de registro, as ilhas foram dominadas por baixos níveis de gramíneas, samambaias e arbustos parecidos com urzes anãs.

Então, 5.000 anos atrás, ocorreu uma transição abrupta à medida que a região esfriava. Aves marinhas estabeleceram colônias nas ilhas e, em 200 anos, as pastagens de touceira tornaram-se a vegetação dominante. 

As altas concentrações de guano depositadas pelas aves marinhas moldaram o ecossistema terrestre, nutrindo a grama, produzindo turfa e aumentando a frequência de fogo.

Foto: (reprodução/ internet)
 

Sabemos que muitas aves marinhas no Atlântico Sul dependem dessas pastagens costeiras únicas, mas descobrimos que as gramíneas também dependem dos nutrientes que as aves marinhas fornecem”, diz Jacquelyn Gill do Maine, coautora do estudo.

“Porque dependem dos ecossistemas do oceano e da terra para sua sobrevivência, as aves marinhas são realmente boas sentinelas da mudança global.”

Esse equilíbrio cuidadoso que sustenta o ecossistema das Malvinas também o torna sensível às mudanças no uso da terra e no clima

De acordo com a autora principal Dulcinea Groff, esta pesquisa levanta a questão de para onde irão as aves marinhas com o aquecimento do clima.

A ausência de aves marinhas do local de estudo antes de 5000 anos atrás indica que elas são sensíveis à mudança de temperatura; temperaturas mais altas da superfície do mar podem, por exemplo, impactar seu suprimento de alimentos.

Groff, que agora mora na Universidade de Wyoming, observa que “os esforços de conservação das aves marinhas no Atlântico Sul devem ser preparados para que essas espécies se mudem para novos criadouros em um mundo mais quente, e esses locais podem não ser protegidos”.

No documento, os pesquisadores emitem um aviso final: “À medida que o Oceano Antártico continua a aquecer nas próximas décadas, as comunidades de aves marinhas das Ilhas Malvinas podem sofrer uma reviravolta abrupta ou colapso, o que pode acontecer na ordem de décadas”.

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Traduzido e editado por equipe Isto é Interessante 

Fonte: Cosmos

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