A vida subterrânea das plantas

A energia que uma planta dedica às suas raízes depende de sua proximidade com outras plantas, de acordo com um novo estudo.

Usando uma combinação de modelagem e experimentos, uma equipe de pesquisa dos Estados Unidos, Brasil e Espanha mostrou que, na presença de concorrentes, as plantas super produzem raízes para abocanhar recursos próximos, mas evitam buscar nutrientes perto de seus vizinhos.

Isso fornece uma nova base teórica para a compreensão das regras que governam o comportamento competitivo radical, sugerem os pesquisadores, e tem implicações para responder às mudanças climáticas.

À medida que as plantas removem o dióxido de carbono da atmosfera e o depositam em suas estruturas, saber como as mudanças na deposição de carbono em diferentes cenários podem ajudar a prever com mais precisão a absorção de carbono.

“Embora as partes aéreas das plantas tenham sido amplamente estudadas, incluindo quanto carbono elas podem armazenar, sabemos muito menos sobre como as partes subterrâneas … armazenam carbono”, diz Ciro Cabal, da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, autor principal de um artigo na Science.

“Como cerca de um terço da biomassa da vegetação mundial, portanto o carbono, está abaixo do solo, nosso modelo fornece uma ferramenta valiosa para prever a proliferação de raízes em modelos de sistema terrestre global.”

As plantas fazem raízes finas para absorver água e nutrientes do solo e raízes grossas para transportar essas substâncias de volta ao seu centro.

Seu investimento nesses sistemas envolve o volume total de raízes e a forma como são distribuídas. Uma planta pode concentrar todas as suas raízes diretamente abaixo de seus brotos, ou pode espalhá-las horizontalmente para forragear no solo adjacente, competindo com as plantas vizinhas.

O novo modelo previu dois resultados potenciais quando as plantas se descobrissem compartilhando o solo. No primeiro, as plantas cooperam segregando seus sistemas de raízes para reduzir a sobreposição, o que leva à produção de menos raízes em geral do que se fossem solitárias.

No segundo, quando uma planta percebe recursos reduzidos em um lado devido à presença de um vizinho, ela encurta seu sistema radicular naquele lado, mas investe mais nas raízes diretamente abaixo do caule.

A vida subterrânea das plantas
Foto: (reprodução/ internet)

A seleção natural prediz esse cenário, pois cada planta atua para aumentar sua própria aptidão, independentemente do impacto nas outras. Se as plantas estiverem muito próximas, este aumento do investimento no volume da raiz, apesar da segregação dessas raízes, pode resultar em uma “tragédia dos comuns”, em que os recursos (neste caso, umidade do solo e nutrientes) são esgotados.

Para testar isso, os pesquisadores cultivaram plantas de pimenta em uma estufa individualmente e em pares. No final do experimento, eles tingiram as raízes das plantas de cores diferentes para que pudessem ver facilmente quais raízes pertenciam a qual planta. Eles então calcularam a biomassa total do sistema radicular de cada planta e a proporção de raízes para brotos.

Eles descobriram que quando plantadas perto de outras pessoas, as plantas de pimenta aumentavam o investimento nas raízes localmente e reduziam o quanto elas estendiam suas raízes horizontalmente, para reduzir a sobreposição com as vizinhas.

Não houve evidência de uma “tragédia dos comuns“, uma vez que não houve diferença na biomassa total da raiz ou investimento relativo em raízes em comparação com as estruturas acima do solo (incluindo o número de sementes produzidas por planta) para plantas solitárias versus coabitantes.

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Traduzido e editado por equipe Isto é Interessante 

Fonte: Cosmos Magazine