Como um estilo de vida ajudou a levar uma espécie de lontra à quase extinção

Depois que os preços da borracha selvagem despencaram no início do século 20, os comerciantes de borracha na Amazônia se voltaram para o comércio de animais selvagens para manter seus negócios funcionando. 

Eles visaram muitas espécies, incluindo duas lontras de rio: a ariranha e a ariranha neotropical. Porém, apenas uma dessas espécies, a ariranha, foi levada à quase extinção. E uma nova pesquisa sobre os padrões do comércio de caça revelou como a biologia da ariranha, incluindo suas tendências monogâmicas e estilo de vida social turbulento, pode ter prejudicado sua sobrevivência.

Pelo menos 23 milhões de animais amazônicos, incluindo as lontras, foram caçados por suas peles de 1904 a 1969. Eles foram mortos principalmente por suas peles, o que era desejável nos mercados dos Estados Unidos e da Europa. 

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Foto: (reprodução/ internet)

Uma lei de 1967 proibiu a caça comercial, mas a demanda por pele de lontra não diminuiu realmente até 1975, quando o Brasil aderiu à Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Extinção, conhecida como CITES. 

Naquela época, no entanto, a lontra neotropical havia diminuído em número e a ariranha quase foi extinta, desaparecendo inteiramente de partes de sua distribuição histórica.

Desde então, a ariranha neotropical recuperou seu número, e a população de ariranhas, embora ainda em risco de extinção, parece estar aumentando no Peru, Colômbia e Brasil.

Isso inclui o alto Rio Negro, no noroeste do Brasil, lar do povo indígena Baniwa. 

Os Baniwa estavam curiosos para saber se seus hábitos de pesca afetariam de alguma forma o retorno das ariranhas, questão que acabou chamando a atenção da ecologista Natalia Pimenta, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia de Manaus, Brasil, e seus colegas. 

Mas antes que os cientistas pudessem responder à pergunta dos Baniwa, eles precisavam saber mais sobre o passado das lontras.

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Foto: (reprodução/ internet)

Durante os anos em que as lontras foram caçadas comercialmente, diz Pimenta, era comum as empresas registrarem suas vendas de peles. Esses documentos históricos – muitos dos quais estão no Museu do Amazonas da Universidade Federal do Amazona, em Manaus, graças ao coautor de Pimenta André Antunes, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – permitiram que a equipe de pesquisadores reconstruísse quantas peles de lontra foram vendidas e como preços mudou com o tempo.

A outra fonte importante de dados foram os próprios Baniwa. Baniwa caçava lontras de rio no Rio Içana, parte do alto Rio Negro, e vendia as peles para comerciantes brancos. Pimenta e seus colegas entrevistaram 11 homens Baniwa que tinham idade suficiente para participar de caçadas de lontras. 

Fui muito bem recebido nas comunidades onde estive”, diz Pimenta. “Apesar de poucos caçadores estarem vivos, encontrei muitos povos indígenas que haviam testemunhado seus parentes [caçadas] de lontras e que conseguiram reproduzir em detalhes como a atividade era realizada na região”.

Um Baniwa lembrou: “Eu devia ter menos de 10 anos, mas me lembro da Içana cheia de barcos de comerciantes brancos, em busca de peles de onça, lagarta, lontra e ariranha. O comércio durou quase 10 anos, até que os animais desapareceram por aqui. Ninguém mais viu ariranhas. ” Isso deve ter sido por volta de 1960.

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Foto: (reprodução/ internet)

Os registros históricos confirmam que peles de ariranha haviam se tornado mais raras no comércio até então, com lontras neotropicais tomando seu lugar. Mas por que as ariranhas quase desapareceram antes de seus primos neotropicais? Por um lado, eles eram as espécies de lontra maiores, o que tornava uma única pele mais valiosa do que a das lontras neotropicais menores. 

No entanto, as duas lontras têm estilos de vida muito diferentes que tornam as espécies gigantes muito mais vulneráveis ​​à caça humana.

As ariranhas vivem em grupos sociais de até 20 animais especialmente barulhentos. Isso os torna fáceis de encontrar e eficientes para caçar. Nesses grupos, geralmente há apenas um par monogâmico de animais reprodutores. 

Como um estilo de vida ajudou a levar uma espécie de lontra à quase extinção

Mate um desse par – e o grande macho seria um bom alvo – e você poderia separar todo o grupo, a equipe observa 30 de março em PLOS ONE.

As lontras neotropicais, ao contrário, são criaturas menores, solitárias e tranquilas, que costumam sair durante o dia, mas, quando enfrentam pressões humanas, podem se tornar noturnas. 

Isso os torna mais difíceis de caçar e menos lucrativos. As lontras fêmeas podem acasalar com vários machos em um território, portanto, mesmo que os caçadores eliminem alguns machos grandes, as fêmeas ainda têm opções

Como resultado, as lontras neotropicais não apenas nunca foram submetidas à mesma intensidade de caça que seus primos maiores, mas também estavam mais bem equipadas para lidar com suas perdas.

O trabalho de detetive dos pesquisadores pinta um quadro histórico das práticas de caça e da economia da época. Mas o trabalho também tem implicações práticas para as populações de lontras modernas. 

A partir da resposta da espécie à pressão da caça, podemos sugerir estratégias de manejo e conservação direcionadas a cada espécie”, diz Pimenta.

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Traduzido e editado por equipe Isto é Interessante 

Fonte:Science News